ONDE ESTÁS TU?
NÃO ESTOU EM MIM
LOCAL 1
Combino encontrar-me com ela no Chiado.
Entro no café Lounge, chão iluminado, paredes pintadas de verde relva, música alternativa, empregados com cortes de cabelo irregulares e de cores alegres, uniforme espacial, revistas sobre decoração, folhetos que anunciam eventos, guias da cidade.
Procuro em todas as mesas pela sua presença. Não a encontro.
De certo está a ter mais uma daquelas tardes magníficas cheias de acontecimentos inadiáveis, com muitos telefonemas e de agendas cheias, como de costume.
Sento-me, peço uma sandwich em formato de coração e um batido de banana. Mastigo lentamente enquanto fito demoradamente o ambiente e a porta da entrada.
Chega, animada, a falar ao telemóvel... Tropeça no degrau da entrada, deixa cair o telemóvel para longe, estatela-se ao comprido.
Todos os olhares se voltam.
Levanto-me, ajudo-a a levantar e ajeitar-se. Pego-lhe na mão avermelhada pela queda e beijo-lhe a palma de linhas por traçar.
Estamos no centro das atenções.
LOCAL 2
Frente-a-frente conversamos.
Ele sente o meu olhar a desviar para o infinito, para o vazio, a infiltrar-se no corpo sem se mexer.
Continua a dissertar sobre algo importante que sei que me interessa.
- Desculpa, podes repetir…
Tenho a cabeça noutro lado, desculpa.
LOCAL 3
- Olá Lindaaaa
Ela está junto à janela, frente ao portátil. O Sol reflecte-lhe as cores primaveris pela casa inteira, brilha nos seus lábios carnudos, vermelhos cereja.
Ri-se olhando o ecrã, dá gargalhadas. Os dedos esvoaçam pelo teclado. Agita-se.
Pareceu-me vê-la numa comunicação muda, mas cheia de gente, gente animada, gente invisível.
Olá querido.
Dá-me um segundo.
Estou na net!
LOCAL 4
Finalmente, predispus-me a arranjar tempo para ir ao ginásio.
Regulo a passadeira. Aumento a velocidade, regulo a inclinação até atingir o batimento cardíaco aconselhável.
Movimentos mecanizados e em automático. Deslizo para os meus pensamentos e escolho pensar na enormidade de coisas que estão para fazer na minha agenda.
Fazer isto, aquilo, pedir um orçamento, enviar uma proposta, telefonar para saber como correu o exame, decidir o que fazer com aquela base de dados, enviar o press-release, responder aos mails, organizar a exposição, comprar flores, ir buscar os bilhetes para o concerto do Rufus, encomendar café, tirar as fotos que faltam….
BANG!!!! Dou por mim a correr contra o tempo.
Não! Pára! Estou no ginásio a correr para moldar os músculos, porque faz bem à saúde, porque ajuda a libertar endorfinas, etc.
A minha pulsação está a mil.
Não diminuo a velocidade nem baixo a inclinação, mudo o pensamento.
Imagino que estou frente ao mar, a rir, a sorrir com o vento, a mergulhar, a espreguiçar-me na areia dourada.
Não corro contra o tempo, corro no tempo.
A pulsação volta ao normal.
Estou de novo no ginásio.
LOCAL INFINITO
Estou perdido.
Estou a encontrar-me.
Não estou em mim.
Estás na tua, a olhar o umbigo.
Estou nas nuvens.
Estou na boa.
Viveu sempre à frente do seu tempo.
Ela está na net.
Ele está lá.
É uma pessoa muito à frente.
Estou no centro do Universo.
Estou por dentro da música.
Ela vive na lua.
Estou na tua.
Estou contigo.
Tem os pés assentes na terra. Uau!!!
Ela não está na realidade.
Ela não sabe o que isso é.
Parece que não estamos onde estamos. Estamos onde estiver o nosso pensamento, a nossa atenção, os nossos sentidos.
Estou a pensar em ti!!!!
NÃO ESTOU EM MIM
LOCAL 1
Combino encontrar-me com ela no Chiado.
Entro no café Lounge, chão iluminado, paredes pintadas de verde relva, música alternativa, empregados com cortes de cabelo irregulares e de cores alegres, uniforme espacial, revistas sobre decoração, folhetos que anunciam eventos, guias da cidade.
Procuro em todas as mesas pela sua presença. Não a encontro.
De certo está a ter mais uma daquelas tardes magníficas cheias de acontecimentos inadiáveis, com muitos telefonemas e de agendas cheias, como de costume.
Sento-me, peço uma sandwich em formato de coração e um batido de banana. Mastigo lentamente enquanto fito demoradamente o ambiente e a porta da entrada.
Chega, animada, a falar ao telemóvel... Tropeça no degrau da entrada, deixa cair o telemóvel para longe, estatela-se ao comprido.
Todos os olhares se voltam.
Levanto-me, ajudo-a a levantar e ajeitar-se. Pego-lhe na mão avermelhada pela queda e beijo-lhe a palma de linhas por traçar.
Estamos no centro das atenções.
LOCAL 2
Frente-a-frente conversamos.
Ele sente o meu olhar a desviar para o infinito, para o vazio, a infiltrar-se no corpo sem se mexer.
Continua a dissertar sobre algo importante que sei que me interessa.
- Desculpa, podes repetir…
Tenho a cabeça noutro lado, desculpa.
LOCAL 3
- Olá Lindaaaa
Ela está junto à janela, frente ao portátil. O Sol reflecte-lhe as cores primaveris pela casa inteira, brilha nos seus lábios carnudos, vermelhos cereja.
Ri-se olhando o ecrã, dá gargalhadas. Os dedos esvoaçam pelo teclado. Agita-se.
Pareceu-me vê-la numa comunicação muda, mas cheia de gente, gente animada, gente invisível.
Olá querido.
Dá-me um segundo.
Estou na net!
LOCAL 4
Finalmente, predispus-me a arranjar tempo para ir ao ginásio.
Regulo a passadeira. Aumento a velocidade, regulo a inclinação até atingir o batimento cardíaco aconselhável.
Movimentos mecanizados e em automático. Deslizo para os meus pensamentos e escolho pensar na enormidade de coisas que estão para fazer na minha agenda.
Fazer isto, aquilo, pedir um orçamento, enviar uma proposta, telefonar para saber como correu o exame, decidir o que fazer com aquela base de dados, enviar o press-release, responder aos mails, organizar a exposição, comprar flores, ir buscar os bilhetes para o concerto do Rufus, encomendar café, tirar as fotos que faltam….
BANG!!!! Dou por mim a correr contra o tempo.
Não! Pára! Estou no ginásio a correr para moldar os músculos, porque faz bem à saúde, porque ajuda a libertar endorfinas, etc.
A minha pulsação está a mil.
Não diminuo a velocidade nem baixo a inclinação, mudo o pensamento.
Imagino que estou frente ao mar, a rir, a sorrir com o vento, a mergulhar, a espreguiçar-me na areia dourada.
Não corro contra o tempo, corro no tempo.
A pulsação volta ao normal.
Estou de novo no ginásio.
LOCAL INFINITO
Estou perdido.
Estou a encontrar-me.
Não estou em mim.
Estás na tua, a olhar o umbigo.
Estou nas nuvens.
Estou na boa.
Viveu sempre à frente do seu tempo.
Ela está na net.
Ele está lá.
É uma pessoa muito à frente.
Estou no centro do Universo.
Estou por dentro da música.
Ela vive na lua.
Estou na tua.
Estou contigo.
Tem os pés assentes na terra. Uau!!!
Ela não está na realidade.
Ela não sabe o que isso é.
Parece que não estamos onde estamos. Estamos onde estiver o nosso pensamento, a nossa atenção, os nossos sentidos.
Estou a pensar em ti!!!!
8 Comments:
At 8:32 da tarde, Rita said…
you are welcome to elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny
At 8:38 da tarde, Rita said…
A MAGNÓLIA
A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.
Luísa NETO JORGE
At 9:36 da manhã, Anónimo said…
LOCAL EM MIM
Encontrei-me com ela, sem combinar, e partilhámos os fumos acres das duas bicas, cheias, na cidade por onde se vagueia, sem guia, e sem chamar a atenção de quem passa.
As frases são inconsequentes, irrelevantes, apenas servindo de bandeja ao manjar divino que é uma troca de olhares.
Saltou da cadeira frente à janela, abandonou aquele deserto povoado na teia onde muitos se perdem, para não perder O beijo.
Fugi das passadeiras, dos músculos everests, das capas das revistas e viajo, sem rumo, por sobre as flores, asas ao vento, sem responder a apelos de espanto e curiosidade, como se, invisível, todos conhecessem o meu lugar de paz.
E estou onde sempre estive: abraçando as músicas, as luas, sem tempo para espelhos, porque os infinitos são o lugar de destino.
ZP
At 7:28 da tarde, Anónimo said…
Deviamo-nos sentir todos os dias assim...
http://www.youtube.com/watch?v=Y6rE0EakhG8
At 1:23 da tarde, Rita said…
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu ?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Rui Malheiro e Tiago Leitão
Música de Jorge Palma
At 1:28 da tarde, Rita said…
Duas Cheias sem açúcar, por favor!!!
At 10:40 da tarde, Anónimo said…
só hoje, a ler o teu ultimo post (sempre com o teu cunho mt pessoal, sempre mt "rita") é que reparei que naquela foto em que estamos todos (ótimos) com aquelas perucas loucas, o afonsinho está dentro do saco que eu tenho na mão. mais pequeno ainda, na altura, mas vê-se uma cabecinha mt engraçada ali a brotar do saco rosa. adorei! :)
beijinhos para ti
já agora: http://arcadenoe.sapo.pt/petsite.php?id=16195
enjoy it!
At 12:03 da manhã, Rita said…
Olá amiguinhooooo,
Estamos lindos, magníficos como sempre!!!!
E o teu afonsinho está lindo, adorei ver todas as fotos e ri-me à brava...
Não fazia ideia da existência de um Hi5 para animais de estimação.
Lindo! Muito Carlos!
Saudades
P.S. Obrigada pela visita!
Rita
Enviar um comentário
<< Home