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domingo, novembro 4


ATENÇÃO, ATENÇÃO!
Preparativos agora para a preparação da mudança… Mudança.














Nove anos olham a planta. O indicador percorre as divisões.
Cinco quartos, sete casas-de-banho, quatro salas, uma garagem, uma sala para ler, uma sala para passar a ferros, cozinha, jardim interior,
Jardim e mais jardim e aqui a piscina.
- Ó pai! E depois para onde mudamos?
- Queres mudar?
Risos, gargalhadas, ehehehehe.
- Não!
Ahahahahaha.


















Empacotar. Máquinas de empacotar.
Caixas, caixas.
Caixas com música
Caixas com livros. Muitas. Pesadas
Caixas com revistas
Caixas com camisolas de manga curta
Caixas com camisolas de manga comprida
Caixas com roupa quente
Caixas com sapatos
Caixas com malas
Caixas com “não sei para o que é que isto serve, mas ainda não é desta que vai para o lixo”
Caixas com recordações
Caixas com loiça
Caixas com tachos
Caixas
Caixas
Caixas
Queixas

















Transportar. Máquinas de transportar.

Quatro jovens abraçam estas caixas, com olhos de riso, com olhos de esforço, com olhos de “ainda agora isto começou”.
Sobe escada, desce escada, tira, põe, aqui não, ali é melhor.
Elevadores para cima, elevadores para baixo. Ainda bem que alguém os inventou.
Tudo fora do sítio. Tudo para o novo sítio. Tudo para o sítio que inventei aqui. Ali!















Já instalada na nova morada, elevo a mão para acender a luz.
Ah, é verdade, o interruptor, não está aqui, tacteio pela parede até o encontrar, dou uma canelada na cama que também ocupa uma nova posição e dimensão, encosto-me ao móvel e bato com a cabeça na prateleira, tropeço na pilha de caixas que ainda está no meio do corredor.
Nódoas negras, hematomas, braços cansados.
Ah! Descansamos um grande bocado, ao sol na nova varanda com vista mar e penso na quantidade de movimentos que costumamos fazer automaticamente, sem parar para pensar, na quantidade de guinadas que não damos quando o percurso é sempre o mesmo, na monotonia de um costume impregnado no corpo.
No esforço que despendemos, nas cabeçadas que damos, nas nódoas negras com que ficamos para mudar.












E pergunto…
Quantas mudanças deixamos de fazer na vida, por desconfiarmos, que vai custar um bocadinho, que não nos vamos saber movimentar no novo ambiente, na quantidade de coisas que vamos ter de aprender para ter sucesso, para fazermos, sermos, termos aquilo com que sempre sonhámos?
Saio para a rua, para conhecer a nova vizinhança, os caminhos, os risos deste sítio, a vista.
E avisto-te ao fim da rua, com mais uma caixa.





3 Comments:

  • At 10:58 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    ...transbordante de memórias futuras: das caneladas noutras camas, dos interruptores que se eclipsarm, do novo sol que iluminará as laranjas, das bicicletas junto ao mar, dos sumos ao pôr-do-sol, dos SÓIS!

    E outras caixas se abrirão com sorrisos, surpresas, carícias.

    Que nunca se extinga este ardor de desencaixotar, de encontrar rumos, veredas, sons de violinos.

    ZP

     
  • At 11:02 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Sim senhora, Rita nunca pensaste em escrever um livro com todos estes poemas? É que por acaso gostei muito e tenho a certeza de que outras pessoas gostariam de ler estes teus poemas.

    PMGR

     
  • At 12:21 da manhã, Blogger Rita said…

    Que haja sempre aquele olhar traquinas, quando se abre uma caixa que se desconhece.


    Rita

     

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