EnjoyYourLife

quarta-feira, janeiro 6

A Cascata,


Saímos de Lisboa de noite, de madrugada, com as mochilas e as tendas às costas. O destino, eram as ilhas mais lindas, mais paradisíacas que conheço.
Os Açores.
Para uns era a primeira vez que iam às ilhas, eu já era uma repetente e há lugares e paisagens que tínhamos de encontrar ou reencontrar.

A Cascata é um daqueles sítios que ficam no coração, no pensamento para sempre, têm uma beleza mágica, que não se encontram por aí, estão escondidos, no meio do Mundo e é preciso estar atento para os encontrar. Sentimos algo especial quando encontramos estes sítios mágicos. Ali sinto que a Vida tem de ter um significado muito profundo, um significado que não nos apercebemos no dia-a-dia, sinto que estou no berço aconchegado do Mundo.
Naquela tarde, era como se a cascata fosse o único propósito da viagem.
Para chegar à cascata é preciso andar duas horas a pé até à Fajã e depois, subir uma encosta durante mais ou menos uma hora.
O caminho é uma descoberta, a vista é indescritível, os pássaros pousam nos nossos braços, há amoras silvestres e o mar acompanha a caminhada lá de baixo.
Chegámos à Fajã. Dirigimo-nos logo para a cascata.
Claro que já tinha descrito este lugar aos meus amigos.
Pelo caminho, encontrámos duas raparigas que vinham em sentido contrário e como há tanto tempo que não ia aquele lugar, pedi indicações sobre o caminho a seguir. Aquelas duas, disseram que não tinham encontrado nenhuma cascata pelo caminho, nem tinham ouvido o barulho da água, portanto não havia nenhuma cascata.
Parámos, por uns instantes para descansar e todo o grupo começou a achar que a cascata já não existia ou que estávamos no caminho errado. Quando retomámos o caminho, foi no sentido oposto ao da cascata... dei três ou quatro passos e pensei: É impossível que a Cascata já não exista, se tal acontecesse, o planeta inteiro já tinha morrido de sede.
A cascata existe e o caminho é este, eu já lá estive!
Entretanto o grupo inteiro já estava fora do nosso alcance visual, portanto seguimos caminho sozinhos.

Passado pouco tempo, estávamos na cascata e não estava lá mais ninguém naquela água cheia de energia, transparente. A magia também está nos olhos e nos sorrisos demorados de quem encontra a cascata pela primeira vez. Reencontrá-la é como receber um abraço caloroso da natureza.

Há dias, quando andava a passear na minha cabeça, lembrei-me deste acontecimento. Pensei que se nunca tivesse ido à cascata antes, se não soubesse que ela existia, provavelmente eu também teria desistido a meio caminho. Depois iria arrepender-me e teria de fazer todo o caminho de novo para lá chegar.
Achei que poderia fazer um paralelismo entre esta caminhada e a nossa vida. Existe sempre, algo que queremos alcançar, uma cascata. Para isso temos de encontrar o caminho para lá chegar, temos de acreditar que existe, superar obstáculos, esperar o tempo necessário, etc. Quantas vezes, encontramos pessoas que estão no sentido oposto ao nosso e que nos contagiam com a sua descrença, ou passamos por experiências que nos desencorajam? E quantas vezes desistimos de encontrar as cascatas da nossa vida ou acomodamo-nos por causa de coisas sem importância?

Quando estou naquela parte do caminho, em que as coisas nunca mais acontecem, em que temos de dar tempo ao tempo e que a espera desespera, penso na cascata, penso na caminhada daquela tarde.
E aqui longe da cascata, recebo um abraço de esperança que me aconchega e que apazigua a minha ansiedade. Penso que o caminho também é uma aprendizagem doce e que o tempo acrescenta valor.

Desejo que em 2010 encontrem a vossa cascata!!!
Beijos

domingo, agosto 9



REBENTAAAAAAAAA BOLHAAAA!!!!!!




Era assim. Era assim, quando éramos pequenos e quando descobríamos que alguém estava a fazer batota enquanto jogávamos às Escondidas ou ao Apanha, gritávamos bem alto: Rebentaaaaaaaaaa Boooooolhaaa!

O grupo todo voltava a reunir-se e o jogo recomeçava. Simples. Rápido. Sem complicações.











Um destes dias de Janeiro acordei às 5 da manhã para apanhar um voo ... que foi cancelado...

Estive o dia inteiro metida em aeroportos, aviões e transbordos... para finalmente chegar ao destino 10 horas depois do previsto. Nestes sítios, cheios de gente, ninguém nos vê e todos nos atropelam sem reparar.

A parte boa de tudo isto é que se põe a literatura em dia... o livro de viagem, as revistas do aeroporto, as revistas de moda e os jornais diários.










O livro...

“- Como se formam os Planetas?


- Não o sabemos muito bem. As poeiras interestelares dispõem-se à volta de embriões de estrelas e formam discos análogos aos anéis de Saturno. Depois, pouco a pouco estes pequenos corpos unem-se para construir estruturas rochosas de dimensões sempre crescentes. As colisões são frequentes, as pedras entrechocam-se, quebram-se ou capturam-se mutuamente. Certos blocos, mais maciços, atraem os outros e acabam por se aglomerar em planetas.”
In: “A mais bela história do Mundo Os segredos das nossas origens”


Fazendo uma analogia para a organização da sociedade... Todos nós, Terráqueos, fazemos parte de uma rede social e cada um de nós, munido de um conjunto de valores, desempenha um papel, tem comportamentos que geram uma vivência em sociedade.


As revistas de moda ...

Mala em pele de piton 1980 euros...


Os jornais ...

Crise? Falou-se muito nela ao longo deste ano e num mundo sem dinheiro, todos ralham e ninguém tem razão. Zangam-se as comadres e descobrem-se as verdades.

No inicio do ano de 2009 dia sim dia sim ficávamos a conhecer mais um escândalo financeiro. Desde o Madoff, até ao nosso Sócrates, passando por todos os ex-ministros que ocupam altos cargos em empresas privadas e outros cuja fortuna inteirinha foi sorrateiramente transferida para a offshore mais estrambólica e outros que ocupam cargos em empresas municipais como a Gebalis que utilizam cartões de crédito dourados sem limite e que pagam pequeno-almoço em Paris.

Os mesmos que referi atrás, permitem que enfermeiros Portugueses trabalhem a recibos verdes. Gritante!
Eu pergunto, O que aconteceria se todos os empresários cancelassem os contratos de trabalho que garantem todas as regalias sociais e passassem a contratar a recibos verdes? Era ruptura da segurança social num segundo. Seria como um buraco negro no universo!
Ó meus senhores e depois como era? O que era feito da vossa reformazita milionária que não tarda está aí?

Muitos especularam ao longo deste ano, sobre quando iria acabar a crise...
Curiosamente, deixámos de ouvir falar na crise depois do Michael Jackson morrer, quando as vendas dos seus CDs dispararam em flecha, qual retracção ao consumo.


E agora. Agora? Qual a única área em que não se poupa dinheiro?

Na saúde. Vamos todos comprar máscaras, líquidos para desinfectar as mãos, vacinas e outros bichos móis, para não sermos infectados pela gripe A que muito provavelmente foi criada em laboratório. Vá, vamos lá gastar, que a economiazinha precisa de revitalizar e os laboratórios farmacêuticos que não podem ouvir falar dos genéricos, precisam de ganhar dinheirinho.


Outros, especulam sobre as causas da crise.


Na minha opinião, a única causa desta crise é uma grave e acentuada crise de valores, uma crise de ética, gerida pela geração a que eu gosto de chamar instantânea.


Os instantâneos!


Aqueles que actuam sem se lembrarem de que O Amanhã também existe.

Os instantâneos são aqueles que recebem “luvas” para aprovar estações de tratamento de água, sem condições, e esquecem-se de que amanhã são os filhos deles que vão beber a água envenenada.

Os instantâneos são aqueles que querem ter tudo mas não querem fazer nada.

Os instantâneos são aqueles que querem gerir países unicamente para beneficio próprio.


Os instantâneos são os que querem ter um corpo magnifico, mas não querem ter uma alimentação saudável nem fazer exercício.

Rebenta a Bolha!

Vá, vamos afastar deste jogo, aqueles que fazem batota.



Vamos dar-lhes o nosso exemplo.



Vamos começar o jogo, com a certeza de que cada um de nós importa.


Só a nossa diferença aporta ao Mundo um dia melhor.


Desculpem lá... se este post não é assim tão cor-de-rosa.


domingo, junho 15

Dançar é como voar sobre o

chão...


Dança:

Naturalmente, uma princesa deve, desde a mais tenra
Idade, praticar a arte da dança com graciosidade
e delicadeza. Ouvir dizer que é pé de chumbo

quando está a dançar é, para uma princesa,
uma grande ofensa, pois a maioria
tem pés leves e delicados. Quando uma princesa perde o ritmo e não respeita
os tempos, diz-se que dança a contratempo.
É castigada e sofre uma contradança.
O minuete é a dança mais apreciada
mas a quadrilha, a pavana e a valsa também
têm muito sucesso.

Outras danças: o bolero,
o mambo, o tango.

A rodopiosa é muito
perigosa, a tremelicosa é muito nervosa

e a ziguezagosa é mais vertiginosa.
A sonobinela é para as princesas mais selectas
assim como o minuete do dia que varia
diariamente.

E para as noites de folia,
O rock and roll, o funky
A sarabanda, o tira-tapete
E o boogie-woogie.

In: Princesas esquecidas ou desconhecidas



Há pouco tempo, aventurei-me no meio destas princesas...

1ª posição
Plié
Arabesque
Assemblé
Attitude
Battement fondu développé
Chassé
Pas de bourrée
Pirouette

Entendu?


Palavras que ainda custam a entrar no ouvido, sobretudo porque o meu corpo ainda não sabe responder com a pirueta certa, com o movimento certo.


Duas a duas, repetíamos a coreografia, ao som de música de princesa, delicada, fantasiosa... que nos deixa sonhar.
E repete, de cá para lá e de lá para cá.


A professora, exigente e num tom sarcástico diz...
’’Pois é... vocês não se esticam, não vão até ao limite. Porque custa, porque dói nos músculos. Mas é tão bom quando conseguimos o controlo do nosso corpo.’’

Todas as princesas de olhar e sorriso cúmplice, recebem estas palavras como um incentivo.
Para conseguir o bom, o excelente, é necessário treino, esforço. E isso dói. E aprender, põe-nos numa posição incómoda perante os que já sabem.

E não é isto maravilhoso?
Sair da casca, sair da bolha de conforto e começar de novo e arriscar e descobrir o limite e descobrir que somos capazes.

Eu tenho uma teoria... Na vida, muitas vezes, vamos deixando coisas para traz, as desculpas são imensas, são tantas quantas as que quisermos inventar.

Mas, todas as coisas "não feitas", ficam na nossa cabeça a rodopiar e são como ervas daninhas que enleiam o pensamento, os movimentos.
Fazê-las é como dançar, rodopiar, voar pelo chão...

Entendu?


terça-feira, janeiro 1



… PLANNING 2008

CUIDADO com o que pensas porque pode tornar-se realidade!

Tenho ouvido esta frase várias vezes, por aqui e por ali.
A palavra CUIDADO, desperta imediatamente em nós o sentido de prudência. Depois, lendo, ou escutando-a até ao final, relaxamos e até sorrimos de olhos brilhantes. Talvez esses olhos fujam para o lado superior direito e a nossa mente deixe por minutos, ou segundos que sejam, a realidade e fuja para o imaginário, onde nos podemos deleitar no plano do Sonho acordado.
Contudo, meditando sobre o seu verdadeiro significado, penso que é mesmo necessária prudência no que se refere aos nossos pensamentos. Deixá-los à solta, sem limites, é com certeza extremamente benéfico em termos de criatividade e outras coisas que tais, mas tudo tem um mas.
Há quem diga que o nosso pensamento, tem realmente um poder imenso, capaz de trazer para o plano real o imaginário e eu acredito.
Não se trata de um fenómeno sobrenatural, nem dos pozinhos perlimpimpim das fadas-madrinhas. Trata-se apenas do facto de aquilo que acreditamos, aquilo que queremos, os nossos valores, os nossos pensamentos, construírem a nossa realidade e a forma como a percepcionamos, condicionando ou despoletando as nossas acções, o nosso positivismo (ou a falta dele), entre muitas outras coisas.

Quantas vezes, já pensaram como é raro ver na cidade flores-de-laranjeira e no instante a seguir é só vê-las em jardins perto de parapeitos de janelas, em bonsai, em ramos nas mãos de raparigas casadoiras, em tecidos estampados costurados em formato de saias, t-shit’s, ganchos de cabelo, enfeites para sapatos, pulseiras, em vasos num super-mercado, etc?
Magia? Não! Já existiam antes de nós pensarmos nelas, simplesmente não as víamos. O simples facto de pensarmos por um segundo, ou mesmo meio segundo, numa coisa tão simples como a flor-de-Laranjeira, trouxe outra realidade à nossa vida, outro colorido, outro cheiro.

Esta reflexão desperta-vos algum pensamento?

Voltemos à frase inicial: “Cuidado com o que pensas, pois pode tornar-se realidade”

A prudência que o cuidado exige, prende-se com a especificidade do pensamento.

Nunca ouviram falar na história de um rapaz, que sonhava viver numa casa enorme, cheia de gente e de movimento? Quando adulto, acabou por ser porteiro e responsável pelo condomínio de um prédio de 20 andares.
Este era o seu sonho? Será que se sentia feliz e contente por ter realizado o seu sonho? Talvez sim, talvez não.

A lição que tiro daqui é que, a felicidade, o sucesso, as gargalhadas, moram dentro de nós e estão tão perto como o nosso pensamento.
O que é especificamente o sucesso, a felicidade, o bonito ou o feio para ti?
Em suma, que sonho é esse que vive contigo, transpira por ti e te faz levantar de manhã com um sorriso nos lábios?
Será possível que és feliz e nem reparas nisso?
Quantas gargalhadas terias que dar por dia, para te considerares uma pessoa feliz?
E quantas vezes terias de choramingar para te considerares infeliz?
E menciono aqui a felicidade como poderia mencionar qualquer outra meta ou sentimento.
O que terias de ver, de ouvir, de sentir, para te considerares uma pessoa de sucesso?
E por último, o que farias para que aquilo que queres de verdade, se torne realidade?
É que às vezes (sempre), concretizamos aquilo que produzimos, que semeamos, que pensamos.
Se o resultado não é o pretendido, das duas, uma, ou deitámos à terra a semente errada ou não a regámos como deveria ser.
Não esquecer que há plantas que adoram o Sol mas requerem pouca água. Outras adoram um dedo de conversa e precisam de uma abelha espevitada a voar ao seu redor.
Querer que um sonho se torne realidade, sem o especificar, sem o traduzir em acções congruentes com o mesmo, sem delinear sub-metas, é o mesmo que ser agricultor e deitar à terra uma semente qualquer e só se sentir uma pessoa concretizada se dali nascerem Nabos.
É como andar no mar à deriva, sem rota, ao sabor das ondas e esperar encontrar a ilha idílica com frutas nas árvores e sem crocodilos.

Fica aqui uma receita (quase) instantânea para confeccionar o sonho:
Muitos pensamentos (todos os possíveis e impossíveis)
1% de inspiração
Descascar as crenças que o limitam
Especificar abundantemente
Confeccionar o caminho das metas
99% de transpiração
Acção
E voilá … torna-se realidade!
Sem magias, golpes de sorte, nem histórias do Walt Disney.
Quanto aos “golpes de sorte”, eu gosto de os chamar de oportunidades aproveitadas.

Enjoy!




domingo, novembro 4


ATENÇÃO, ATENÇÃO!
Preparativos agora para a preparação da mudança… Mudança.














Nove anos olham a planta. O indicador percorre as divisões.
Cinco quartos, sete casas-de-banho, quatro salas, uma garagem, uma sala para ler, uma sala para passar a ferros, cozinha, jardim interior,
Jardim e mais jardim e aqui a piscina.
- Ó pai! E depois para onde mudamos?
- Queres mudar?
Risos, gargalhadas, ehehehehe.
- Não!
Ahahahahaha.


















Empacotar. Máquinas de empacotar.
Caixas, caixas.
Caixas com música
Caixas com livros. Muitas. Pesadas
Caixas com revistas
Caixas com camisolas de manga curta
Caixas com camisolas de manga comprida
Caixas com roupa quente
Caixas com sapatos
Caixas com malas
Caixas com “não sei para o que é que isto serve, mas ainda não é desta que vai para o lixo”
Caixas com recordações
Caixas com loiça
Caixas com tachos
Caixas
Caixas
Caixas
Queixas

















Transportar. Máquinas de transportar.

Quatro jovens abraçam estas caixas, com olhos de riso, com olhos de esforço, com olhos de “ainda agora isto começou”.
Sobe escada, desce escada, tira, põe, aqui não, ali é melhor.
Elevadores para cima, elevadores para baixo. Ainda bem que alguém os inventou.
Tudo fora do sítio. Tudo para o novo sítio. Tudo para o sítio que inventei aqui. Ali!















Já instalada na nova morada, elevo a mão para acender a luz.
Ah, é verdade, o interruptor, não está aqui, tacteio pela parede até o encontrar, dou uma canelada na cama que também ocupa uma nova posição e dimensão, encosto-me ao móvel e bato com a cabeça na prateleira, tropeço na pilha de caixas que ainda está no meio do corredor.
Nódoas negras, hematomas, braços cansados.
Ah! Descansamos um grande bocado, ao sol na nova varanda com vista mar e penso na quantidade de movimentos que costumamos fazer automaticamente, sem parar para pensar, na quantidade de guinadas que não damos quando o percurso é sempre o mesmo, na monotonia de um costume impregnado no corpo.
No esforço que despendemos, nas cabeçadas que damos, nas nódoas negras com que ficamos para mudar.












E pergunto…
Quantas mudanças deixamos de fazer na vida, por desconfiarmos, que vai custar um bocadinho, que não nos vamos saber movimentar no novo ambiente, na quantidade de coisas que vamos ter de aprender para ter sucesso, para fazermos, sermos, termos aquilo com que sempre sonhámos?
Saio para a rua, para conhecer a nova vizinhança, os caminhos, os risos deste sítio, a vista.
E avisto-te ao fim da rua, com mais uma caixa.





sábado, outubro 20

ONDE ESTÁS TU?
NÃO ESTOU EM MIM



LOCAL 1

Combino encontrar-me com ela no Chiado.
Entro no café Lounge, chão iluminado, paredes pintadas de verde relva, música alternativa, empregados com cortes de cabelo irregulares e de cores alegres, uniforme espacial, revistas sobre decoração, folhetos que anunciam eventos, guias da cidade.
Procuro em todas as mesas pela sua presença. Não a encontro.
De certo está a ter mais uma daquelas tardes magníficas cheias de acontecimentos inadiáveis, com muitos telefonemas e de agendas cheias, como de costume.
Sento-me, peço uma sandwich em formato de coração e um batido de banana. Mastigo lentamente enquanto fito demoradamente o ambiente e a porta da entrada.

Chega, animada, a falar ao telemóvel... Tropeça no degrau da entrada, deixa cair o telemóvel para longe, estatela-se ao comprido.

Todos os olhares se voltam.
Levanto-me, ajudo-a a levantar e ajeitar-se. Pego-lhe na mão avermelhada pela queda e beijo-lhe a palma de linhas por traçar.

Estamos no centro das atenções.

LOCAL 2

Frente-a-frente conversamos.
Ele sente o meu olhar a desviar para o infinito, para o vazio, a infiltrar-se no corpo sem se mexer.
Continua a dissertar sobre algo importante que sei que me interessa.
- Desculpa, podes repetir…
Tenho a cabeça noutro lado, desculpa.


LOCAL 3

- Olá Lindaaaa

Ela está junto à janela, frente ao portátil. O Sol reflecte-lhe as cores primaveris pela casa inteira, brilha nos seus lábios carnudos, vermelhos cereja.
Ri-se olhando o ecrã, dá gargalhadas. Os dedos esvoaçam pelo teclado. Agita-se.
Pareceu-me vê-la numa comunicação muda, mas cheia de gente, gente animada, gente invisível.
Olá querido.
Dá-me um segundo.

Estou na net!


LOCAL 4

Finalmente, predispus-me a arranjar tempo para ir ao ginásio.
Regulo a passadeira. Aumento a velocidade, regulo a inclinação até atingir o batimento cardíaco aconselhável.
Movimentos mecanizados e em automático. Deslizo para os meus pensamentos e escolho pensar na enormidade de coisas que estão para fazer na minha agenda.
Fazer isto, aquilo, pedir um orçamento, enviar uma proposta, telefonar para saber como correu o exame, decidir o que fazer com aquela base de dados, enviar o press-release, responder aos mails, organizar a exposição, comprar flores, ir buscar os bilhetes para o concerto do Rufus, encomendar café, tirar as fotos que faltam….


BANG!!!! Dou por mim a correr contra o tempo.
Não! Pára! Estou no ginásio a correr para moldar os músculos, porque faz bem à saúde, porque ajuda a libertar endorfinas, etc.
A minha pulsação está a mil.
Não diminuo a velocidade nem baixo a inclinação, mudo o pensamento.
Imagino que estou frente ao mar, a rir, a sorrir com o vento, a mergulhar, a espreguiçar-me na areia dourada.
Não corro contra o tempo, corro no tempo.
A pulsação volta ao normal.

Estou de novo no ginásio.


LOCAL INFINITO

Estou perdido.
Estou a encontrar-me.
Não estou em mim.
Estás na tua, a olhar o umbigo.
Estou nas nuvens.
Estou na boa.
Viveu sempre à frente do seu tempo.
Ela está na net.
Ele está lá.
É uma pessoa muito à frente.
Estou no centro do Universo.
Estou por dentro da música.
Ela vive na lua.
Estou na tua.
Estou contigo.
Tem os pés assentes na terra. Uau!!!
Ela não está na realidade.
Ela não sabe o que isso é.

Parece que não estamos onde estamos. Estamos onde estiver o nosso pensamento, a nossa atenção, os nossos sentidos.

Estou a pensar em ti!!!!

segunda-feira, julho 23

Regios moles

Não há tempo para nada, nada.
O tempo passa, passa.
Há que fazer isto e isto
Há que fazer aquilo e aquilo
Há que fazer aqueloutro e aqueloutro
E mais isto que surgiu à última hora
E sem falta
Não há tempo a perder
Com isto vou ganhar tempo.
Um corre-corre, um tic-tac.
Um tic-tac que por vezes nos aumenta o pulso
Um tic-tac que nos aperta o pulso
Um tic-tac que enrijece os dias
Um ponteiro que me aponta o dia
Um ponteiro que dita o dia
Um ponteiro que informa as horas
Qual maestro desta vida que é uma música compassada, afinada…
Se eu tivesse todo o tempo do Mundo …
Se eu tivesse todo este tempo do Mundo …

E ela gira
E torna a girar
Gira sobre si mesma
Gira à volta do Sol
E eu giro com ela, a uma velocidade tal que nem dou por isso.

E ao anoitecer, ao anoitecer
É tempo de relaxar, tempo para pensar.
Deito-me no jardim a olhar este céu de Verão estrelado…
Na esperança de ter-te aqui a meu lado de mão dada … se houvesse tempo.
Vejo de rompante a estrela dos desejos…
E peço-lhe tempo.
De olhos postos nas estrelas e a desejar que o meu relógio fosse tão mole como o de Dalí,
penso na relatividade do tempo.

O tempo é o que vejo?
O que se passa no tempo é aquilo que percepciono?
Será possível que aquilo que percepciono é diferente do que é na realidade?
A luz que me chega desta estrela, pode ser a de uma estrela que já nem existe.
Estou a ver a luz de há 10 anos, 20 anos, 200 anos naquele ponto.

Então e se eu tivesse tempo para inventar um estratagema que me colocasse instantaneamente numa destas estrelas, que está, por exemplo à distância de 10 anos-luz?

E se nesse instante eu olhasse a Terra… iria ver-me com menos 10 anos.
O que mudaria? O que voltaria a fazer?
Descanso, esse estratagema não existe, ninguém o inventou e eu não tenho tempo para o inventar.
Contudo, posso fazer essa viagem na minha cabeça e até posso alterar o que quiser se achar necessário e sem calçar as botas de um astronauta.
Sim, porque afinal trata-se de uma memória, trata-se da minha imaginação e nisso mando eu, mesmo que não mandasse no tempo.
E de que tempo falamos?
Qual é o tempo que existe?
Que rigidez é esta?
O que passou não existe. É tão palpável como as palavras que o descrevem.
O futuro também não existe.
É tão florescente, tão cor-de-rosa, tão mágico como eu o conseguir imaginar.
Existe o agora, o já, o neste preciso momento que pode estar desfasado conforme o espaço em que estamos.
Se viajar para outro continente ganho uma hora, duas, cinco.
Quando chega a Primavera, a hora muda, eu ganho uma hora.
É como se tivéssemos um crédito de uma hora durante todo o Verão e a entregássemos ao Inverno.
Se eu tivesse todo o tempo do Mundo, andava a saltar de estrela em estrela???
Será que era esta disformidade, esta relatividade do tempo, que Dalí queria exprimir quando pintou os relógios moles?
Será que o tempo não é assim tão rígido, que o tempo é maleável e que o conseguimos moldar?
Será que é possível ter todo o tempo do Mundo?
Será que é possível ter todo o tempo do Mundo para fazer tudo o que gostamos e o que é realmente importante?
E se…
E se fizéssemos todo o tempo aquilo que é importante e de que gostamos?
Como seria o Mundo?
Redondo com certeza!
Então nós temos todo o tempo!
Para quê a pressa?

Tic-Tac, tic-tac
Acordo antes do despertador, sorrio
Tenho todo o tempo do Mundo.
Tenho todo o tempo num espaço infinito, para sorrir
E ela gira e torna a girar
E eu giro com ela sem ficar tonta
Um Giro que gira e torna a girar
Um sorriso e um beijo nos teus lábios brilhantes e carnudos de vermelho cereja.