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domingo, maio 27






2mm


Saio de casa, tiro o carro da garagem e enquanto espero que o portão feche, a chuva cai em formato de gotas fortes que preenchem o vidro da frente. Tenho a sensação de estar a ver através de uma lupa gigante, com partes que ampliam ou tornam disforme o que está para além do vidro.
10:30 Just in Time! Estaciono o carro depois de dar dez voltas ao parque e já não há mais tempo.
Saio do carro, está chover e eu não trouxe o meu Chapéu-de-chuva das sete cores, do tamanho do Mundo. (Digo chapéu-de-chuva desde que estou em Lisboa. Na minha terra, diz-se sombrinha ou guarda-chuva…. Chapéu-de-chuva … que ideia)
Atravessar a estrada o mais rápido possível, andar 200m para chegar à clínica é o meu objectivo. Enquanto espero que o sinal para os peões fique verde, estendo a mão e aprecio a chuva a cair, olho pelo canto do olho, esboço um sorriso traquinas e atravesso saltitando de galochas rosa, por dentro desta poça de água.
Chego de crista baixa com os jeans encharcados e não me livro de aguardar 15 minutos na sala de espera.
- A menina Rita pode entrar para a consulta de oftalmologia.
Entro naquele gabinete com pouca luz e explico porque estou ali.
Luzes nos olhos, olhe para aqui, olhe para ali, o que sente?
A simpatia da oftalmologista não esconde o franzir da testa nem aquelas interjeições (Huuuuuuum, ãããmmm) que eu não entendo o significado.
- Rita, para a analisar melhor, vou-lhe colocar este líquido nos olhos para aumentar a pupila e durante sensivelmente 6 horas a sua visão ao perto vai ficar desfocada.

Ora, se não vejo bem ao longe e se ao perto vou ficar a ver assim, este dia vai ser uma experiência surreal.
Aguarde na sala de espera de olhos fechados até o liquido fazer efeito.
Sento-me numa cadeira e estes minutos parecem uma verdadeira eternidade. Distraio-me com os sons. Alguém passa com um andar forte e imagino que não estou aqui.
Imagino-me sentada na varanda da casa da praia, o Sol quente na cara, o cheiro das ondas…

Volto à realidade com …
- A Sra. Rita pode entrar.
Sra.? Estremeço! Sim eu sei, 30 anos, mas… Sra.? Então e o menina de há pouco?
Mais luzes nos olhos. E o diagnóstico. O que tenho não é nada de especial nem de preocupante.
- Sabe que o nosso olho tem uma camada protectora fibrosa que com a idade, pode sobrepor-se, o que a torna menos transparente.
Com a idade? 30 anos? Sra.?

Saio e o primeiro desafio é acertar no código para efectuar o pagamento por Multibanco. Sei lá onde estão os números. Engano-me por 2mm.

O segundo desafio é encontrar os números no meu telemóvel para avisar que hoje não vou para o escritório. Marco os números, atende-me alguém que não conheço, peço desculpa - enganei-me por 2mm – desligo.

Chego de novo a casa. Não posso ler, não posso escrever, não posso olhar para o ecrãn… vou pôr roupa a lavar na máquina. Será que coloquei o programa correcto, será que é esta a temperatura? Não. Errei por 2mm. Acabei de encolher a roupa toda.

Hoje é dia de ouvir música, olhar para o infinito, pensar e mais nada.

2mm… Isto lembra-me uma teoria de Anthony Robbins, em que ele diz que quando estamos a aprender uma coisa, por exemplo a jogar ténis, quando não estamos a jogar ainda muito bem, as mudanças que temos de fazer são mínimas. Pegar na raquete 2mm mais à frente, incliná-la 2mm para outro ângulo, pôr o pé no chão 2mm para o lado, inclinar as costas mais dois milímetros 2mm, etc.

Apenas 2mm. Tudo por 2mm.

O mesmo se passa no nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, com os nossos relacionamentos, etc.
Imaginem só, só 2mm. E às vezes desesperamos ou desistimos de qualquer coisa, por 2mm. O Euro Milhões, por exemplo, não acertamos na chave correcta apenas por 2mm.

Moral da história…

Quando estiveres com a tua camisola branca, eu provavelmente vou ver uma pequena nódoa cinzenta a passear de um lado para o outro e com certeza vou sugerir-te que uses o branqueador All Fabric Bleach Amway para lavares a roupa. E tu aceitas, está bem?