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segunda-feira, julho 23

Regios moles

Não há tempo para nada, nada.
O tempo passa, passa.
Há que fazer isto e isto
Há que fazer aquilo e aquilo
Há que fazer aqueloutro e aqueloutro
E mais isto que surgiu à última hora
E sem falta
Não há tempo a perder
Com isto vou ganhar tempo.
Um corre-corre, um tic-tac.
Um tic-tac que por vezes nos aumenta o pulso
Um tic-tac que nos aperta o pulso
Um tic-tac que enrijece os dias
Um ponteiro que me aponta o dia
Um ponteiro que dita o dia
Um ponteiro que informa as horas
Qual maestro desta vida que é uma música compassada, afinada…
Se eu tivesse todo o tempo do Mundo …
Se eu tivesse todo este tempo do Mundo …

E ela gira
E torna a girar
Gira sobre si mesma
Gira à volta do Sol
E eu giro com ela, a uma velocidade tal que nem dou por isso.

E ao anoitecer, ao anoitecer
É tempo de relaxar, tempo para pensar.
Deito-me no jardim a olhar este céu de Verão estrelado…
Na esperança de ter-te aqui a meu lado de mão dada … se houvesse tempo.
Vejo de rompante a estrela dos desejos…
E peço-lhe tempo.
De olhos postos nas estrelas e a desejar que o meu relógio fosse tão mole como o de Dalí,
penso na relatividade do tempo.

O tempo é o que vejo?
O que se passa no tempo é aquilo que percepciono?
Será possível que aquilo que percepciono é diferente do que é na realidade?
A luz que me chega desta estrela, pode ser a de uma estrela que já nem existe.
Estou a ver a luz de há 10 anos, 20 anos, 200 anos naquele ponto.

Então e se eu tivesse tempo para inventar um estratagema que me colocasse instantaneamente numa destas estrelas, que está, por exemplo à distância de 10 anos-luz?

E se nesse instante eu olhasse a Terra… iria ver-me com menos 10 anos.
O que mudaria? O que voltaria a fazer?
Descanso, esse estratagema não existe, ninguém o inventou e eu não tenho tempo para o inventar.
Contudo, posso fazer essa viagem na minha cabeça e até posso alterar o que quiser se achar necessário e sem calçar as botas de um astronauta.
Sim, porque afinal trata-se de uma memória, trata-se da minha imaginação e nisso mando eu, mesmo que não mandasse no tempo.
E de que tempo falamos?
Qual é o tempo que existe?
Que rigidez é esta?
O que passou não existe. É tão palpável como as palavras que o descrevem.
O futuro também não existe.
É tão florescente, tão cor-de-rosa, tão mágico como eu o conseguir imaginar.
Existe o agora, o já, o neste preciso momento que pode estar desfasado conforme o espaço em que estamos.
Se viajar para outro continente ganho uma hora, duas, cinco.
Quando chega a Primavera, a hora muda, eu ganho uma hora.
É como se tivéssemos um crédito de uma hora durante todo o Verão e a entregássemos ao Inverno.
Se eu tivesse todo o tempo do Mundo, andava a saltar de estrela em estrela???
Será que era esta disformidade, esta relatividade do tempo, que Dalí queria exprimir quando pintou os relógios moles?
Será que o tempo não é assim tão rígido, que o tempo é maleável e que o conseguimos moldar?
Será que é possível ter todo o tempo do Mundo?
Será que é possível ter todo o tempo do Mundo para fazer tudo o que gostamos e o que é realmente importante?
E se…
E se fizéssemos todo o tempo aquilo que é importante e de que gostamos?
Como seria o Mundo?
Redondo com certeza!
Então nós temos todo o tempo!
Para quê a pressa?

Tic-Tac, tic-tac
Acordo antes do despertador, sorrio
Tenho todo o tempo do Mundo.
Tenho todo o tempo num espaço infinito, para sorrir
E ela gira e torna a girar
E eu giro com ela sem ficar tonta
Um Giro que gira e torna a girar
Um sorriso e um beijo nos teus lábios brilhantes e carnudos de vermelho cereja.